terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Insônia

São cerca de quatro horas da manhã de uma quarta-feira. Uma madrugada quente, quase sem vento, que, todavia, não posso chamar de silenciosa. Nunca tem a sensação de estar sozinho quem mora no centro da cidade. 
No escuro, sem despertador por perto, perdi a noção do tempo, mas arrisco dizer que há mais de uma hora lutava pra dormir. Nem meu corpo encontrou posição confortável, nem eu consegui apaziguar meus pensamentos. Palavras, frases e parágrafos inteiros começaram a cruzar minha mente como num diário imaginário.
Desisti de lutar, levantei pé ante pé pra não acordar o Eduardo e arrumei um cantinho aqui na sala pra, cercada de quatro gatos, tentar escrever. Assim, aos quatro meses de gestação (outra vez o número quatro), resolvi criar este blog. Nem cheguei a cogitar de abrir um caderno: a verdade é que já não sei usar o papel.
Bem, não foi sobre a gravidez em si que senti vontade de falar. A meu ver, seria totalmente desnecessário. Basta uma pesquisa rápida pra descobrir uma porção de sites que falam sobre o assunto, das perspectivas mais variadas que se possa imaginar. Duvido que possa acrescentar algo relevante. Há opções para todos os gostos, como disse, e as que mais me causam repulsa são os foros em que as futuras mães se atormentam mutuamente com informações contraditórias sobre a coisa toda e os relatos emotivos de quem vive essa etapa num estado quase nirvânico de felicidade.
Se eu não posso me alinhar a nenhum desses grupos, tampouco me proponho a fazer um relato de tudo aquilo que tenho observado em mim desde que, num domingo de passeio ao centro budista de Viamão, pressenti que estava esperando um bebê. Por enquanto, sou incapaz de dizer  ao certo o que vai sair dessa minha digitação compulsiva. Só sei que tenho pensado muito nos  acontecimentos que, camada por camada, foram me desnudando ao longo do ano que passou. Parece-me cada vez mais claro que, o tempo todo, em cada pequeno movimento que fiz, estive pavimentando o caminho para a chegada do Francisco a este mundo. Curiosamente, no entanto, ele não é resultado de uma deliberação. Antes de qualquer coisa, ele é fruto de um querer genuíno, que jamais precisou se anunciar em palavras. Em silêncio, na sabedoria que é própria de nossos corpos, o amor uniu  homem e mulher e agora, aos poucos, ganha a forma de um menino.